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sábado, 24 de março de 2012

SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento – 6. Ed.- São Paulo. Atual,1988.

            No século XI e XIV, conhecido como a Baixa Idade Média, o Ocidente europeu passou por um processo onde o comércio e as cidades se reergueram levando a desestruturação do sistema feudal.
            Por volta do século XIV, esse processo entra em decadência, diversos fatores são colocados como o principal causador dessa crise pelos historiadores (Peste negra, a guerra dos 100 anos e as revoltas populares), são aspectos que juntos causaram grandes mudanças em todos os setores sociais. Com a decadência do feudalismo, as terras não são mais tão rentáveis, obrigando os senhores a vendê-las e apostar nas cidades, na verdade não havia outra saída, o comércio urbano estar sendo desenvolvido.
            Não só o comércio, como a monarquia saíram fortalecidos da crise do século XIV, graças ao enfraquecimento político da burguesia. A burguesia via na monarquia a melhor maneira de expandir as rotas comerciais e se proteger.
            Em meio a essas mudanças surge uma nova ordem social. Uma sociedade não pode se transformar e continuar com a mesma ordem social existente. A nobreza e o clero procuravam um novo lugar de destaque nesse sistema, junto às novas monarquias; camponeses e artesãos precisavam agora vender a sua força de trabalho para garantir a sobrevivência.
            No campo do intelecto, surgi o renascimento. Movimento inovador, como caráter transformador. Dentro desse movimento existiu duas correntes, o humanismo e os utopistas.
            Os humanistas, com o objetivo de dar início a um estudo diferente do tradicional baseado em estudos humanos, onde tentavam abolir a tradição intelectual medieval e de buscar raízes para a elaboração de uma nova cultura.
            No movimento humanista a atividade crítica foi uma de suas características mais notável, foi feita crítica a cultura, a filologia, a história. Os humanistas voltavam-se para o agora, para o mundo do concreto dos seres humanos, com um controle maior do próprio destino. Era um grupo voltado a inovação dos estudos, dos pensamentos, centrava-se no individualismo e em sua capacidade realizadora. Possuíam perspectivas mais pragmáticas, propunham que o homem tomasse conta da religião.
            Os humanistas construíram um grupo ousado ao seu tempo e que incomodou a muito. Alguns de seus membros foram mortos exilados ou acabaram morrendo a míngua. Dentro do humanismo houve inúmeras correntes diferentes, cada uma respeitando o individualismo da outra.         
            No que diz respeito a religião, fez-se uma critica severa a igreja, os humanistas acreditavam que a igreja apenas deveria seguir o evangelho, era o anseio por uma reforma religiosa.
            Os utopistas, pregavam uma estrutura social com bases cristãs, um governo com estruturas baseado na democracia grega, pensava uma sociedade sem exploração, pregava o fim do valor do ouro na sociedade, valor em termos econômicos, acreditavam ser o valor do ouro o responsável pelos prejuízos da sociedade, apenas com a desvalorização do ouro o homem seria feliz.
            O movimento renascentista em si não tinha a pretensão de ter caráter inovador, não ia contra a igreja, apenas tinha uma visão diferente da religiosa, colocava o homem no centro das coisas.
            No que dizem respeito às artes, estas passaram a ocupar o centro no movimento renascentista, marcando e demonstrando o desenvolvimento nesse período, como os impulsos do processo de evolução das relações sociais e mercantis.
A arte foi importante para o movimento, mais não foi suficiente para “explicar” essas transformações. A arte renascentista é uma arte de pesquisa, de invenções e inovações, aperfeiçoamentos técnicos, acompanha as conquistas da engenharia, da física, da matemática, da geometria, da anatomia e da filosofia.
Leonardo da Vinci, por exemplo, foi responsável pelo primeiro atlas de anatomia, usando para pintar as pessoas, assim ele conseguia detalhar, destrinchar todo o corpo humano, é seu o primeiro estudo de anatomia. Para as suas artes conseguiu a permissão da igreja, ou melhor, era contratado por ela.
Apesar dessa arte renascentista, ser carregada de novas e diferentes perspectivas, a igreja financiava essa arte. Claro, que impondo suas limitações, ainda assim essa arte não perdeu seu caráter inovador.
Alem da igreja, outros financiadores dessa nova cultura investiam a burguesia, príncipes e monarcas; com o objetivo de uma contribuição cultural a época? É obvio que não. Gostariam em primeiro lugar ao financiar essas artes a autopromoção, a propaganda e difusão dos novos hábitos, valores e comportamentos. As artes deveriam conter uma visão que apresentasse o modo de vida e os valores da burguesia e do poder centralizado como única forma de vida.
Uma luta cultural, onde a burguesia queria se afirmar diante do clero e da nobreza, usando para isso a produção artística .
ALENCASTRO, Luíz Felipe. O trato dos viventes- Formação do Brasil no Atlântico Sul - Séculos XVI e XVII- P. 44-76

            O autor nessas páginas, trata da importância do escravismo e dos produtos africanos para a formação do mercado mundial.
            O trato oceânico impulsiona a troca de mercadorias nas sociedades negras, o trafico negreiro é favorecido pelo comércio continental de longo curso. A Europa puxa essas trocas para uma economia-mundo. Essa é uma grande diferença do escambo realizado entre os nativos e os colonizadores na América do sul, essas trocas (escambo), não criou como na África , traficantes de índios ou mão de obra, até inclusive as os produtos trocados na América não eram tão valorizados quanto na África, como era o caso das armas de fogo, que não se fabricava na África negra.
            Sem contar que a geografia comercial e histórica na África, favorecem a penetração européia. Rios cursados pelos nativos traziam os escambos dos sertões para o litoral. Destacando que desde antes da chegada dos colonizadores, já havia um intercâmbio na África entre seus diferentes povos, territórios e produtos. Uma diferença básica entre África e América pré-européia, é a questão de várias sociedades subsaarianas já conheciam o valor mercantil do escravo.
Nessa área conhecida na África como subsaariana havia portos e feiras para ampliar o mercado negreiro. Um dos produtos de maior valor trocado era o cavalo que chegava a valer de nove a quatorze escravos.
Os europeus não chegaram à África com a intenção de comercializar mercadoria viva. Muitas justificativas foram dadas para o tráfico de negros, a mais forte foi a justificativa religiosa, converter os negros pagãos, e no século XVIII,, a justificativa maior foi a de civilizar os africanos. Além de trocar escravos por mercadorias, no Sahel traficantes ofereciam escravos “pagãos” em troca dos mulçumanos capturados pelos portugueses, é evidente o reflexo dos conflitos étnicos e religiosos na escravidão africana.
Acima foi apontada a facilidade que os europeus encontravam para navegar a costa da África, diferente dos obstáculos encontrados ao navegar a costa brasileira, devido à direção dos ventos, os ventos causavam grandes prejuízos ao tráfico negreiro. O autor traça uma descrição das dificuldades encontradas nas rotas onde os navios precisam navegam da África a América.

ALENCASTRO, Luíz Felipe. O trato dos viventes- Formação do Brasil no Atlântico Sul - Séculos XVI e XVII- P 11-42.

            O autor traça nesse texto a trajetória da metrópole portuguesa, no ultramar tentando pôr em prática sua política. Os conquistadores se empenharam por vários caminhos para se certificar do controle dos nativos e do excedente econômico das conquistas, houve nesse momento uma reorientação por parte da metrópole das correntes ultramarinas.
            Pelo controle dos nativos os colonos travaram conflitos com o clero, passando por cima da ordem régia, para garantir seus domínios, uma coroa foi arquitetada para dominar esses nativos, porém exerciam um frágil domínio,  exerceram essa política em três continentes (Ásia, América do Sul e África).
            Toda uma política de controle e segurança sobre o território foi valida para os colonizadores, na América portuguesa, por exemplo, em 1534 medidas para o povoamento e a valorização do território foram tomadas, como a criação de quinze capitanias hereditárias cedidas a donatário, na intenção de assegurar o domínio comercial e político nesse território que os colonizadores acreditavam ter conquistados e por isso deveriam e precisavam manter o controle. Uma medida de controle foi o governo-geral que deu lugar a um movimento de centralização que reduz os privilégios donatários.
            Dá para perceber que a coroa além de estar querendo o poder do domínio, reivindica também o direito da propriedade sobre as terras a conquistar e a tutela dos povos conquistados.
            No que diz respeito ao trato negreiro, primeiro é necessário entender o quer dizer trato, trato (ou seja, a negociação) entre portugueses e africanos era feito através do escambo (troca). Os produtos oferecidos pelos portugueses interessavam aos africanos: tecidos, vinhos, cavalos, ferro (que era derretido e transformado em armas na África). Com essas mercadorias em mãos, os aliados dos portugueses conseguiam status social e, também, tinham maiores condições de enfrentar povos inimigos e, assim, podiam obter mais escravos para serem negociados com os portugueses. O trato negreiro não se reduz ao comercio de negros, quando a formação histórica brasileira, o trafico molda o conjunto da economia, da demografia, da sociedade e da política da América portuguesa.
            Pode-se considerar o tráfico negreiro como o responsável pelo desenvolvimento do comércio português, o seu maior impulsionador.  A escravidão africana, se transforma em escravismo, ao se tornar escravismo passa a ser um sistema produtivo colonial fundado na escravidão e integrado à economia-mundo, é um sistema estruturado de escravidão, o indivíduo nesse sistema é uma mercadoria lucrativa, faz parte de um política econômica. O escravismo, o trato negreiro, o motor transformador da economia colonial portuguesa. Além de tudo isso tinha o apoio dos clérigos, este apoio era dado a fim de que o escravo africano libertasse os índios da servidão imposta pelos colonizadores moradores do território.
            “Inicialmente com base no trabalho compulsório indígena, a expansão açucareira brasileira será pouco tributária do africano e do comércio negreiro. Mutação devida a uma série de circunstância que merecem ser examinadas de perto”. (P.33).
            O trato negreiro é um comércio administrativo, a instância política do sistema colonial, tem um papel decisivo na organização econômica do Atlântico. O trato dos africanos, submetido durante três séculos à potência européia que articulava o maior mercado de africanos, e o Brasil converteu-se no maior importador de escravos do Novo Mundo.